sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

Eu adoro novidade. Tem gente que não gosta de mudança, prefere que tudo fique como está, fica com preguiça ou sem disposição de se adaptar a nova situação. Eu não. Fora mudar de nome e de sexo, acho que eu já mudei tudo o que podia ter mudado até aqui: emprego, casa, mulher, time, opinião sobre o Lula, violão, carro, posição dos móveis da casa, tudo vale mudar. Desafia a mente, sai da rotina, cria novas sinapses, sei lá. Mas é bom, quase sempre. Não precisa mudar o tempo todo, veja bem, trocar muito de mulher, por exemplo, dá muito mais trabalho do que dar um jeito de resolver as coisas com a que está aí mesmo. Só aconselho em casos extremos. Mas, de modo geral, gosto muito de quase qualquer mudança.

Por isso, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que passa a viger em 2009, me deixou feliz. A princípio achei ruim, porque a unificação das grafias não resolve o maior problema, que se refere às regras da norma-padrão, concordância, regência, colocação pronominal etc. Mas depois mudei de opinião e achei bom. Assim, como entusiasta das mudanças que sou, antes mesmo de o Acordo entrar em vigor, vou começar a atualizar os meus três blogues, adaptando-os às novas regras ortográficas. Mesmo as postagens antigas. Afinal, isso aqui é um blogue, e não uma biblioteca. Boa oportunidade para, em tempos de postagens magras, reler os textos antigos por aqui, que são bonzinhos, até.

* Se você clicar no título da postagem, vai cair direto no texto do Acordo, para saber o que muda. Se ficar com preguiça de ler tudo, posso responder a algumas perguntas lá no A Letra mata.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O americano médio

Eu odeio a expressão “o americano médio”. Aliás, não; não odeio. Acho até engraçada, às vezes. Na verdade, eu não acredito na existência do “americano médio”. Eu não conheço muitos americanos (acho até que não conheço nenhum; vamos ver se me lembro de algum até o fim da postagem). Mas conheço gente o suficiente para saber que em nenhum país do mundo deve existir alguma coisa que se possa chamar, assim tão generalizadamente, de “o alemão médio”, “o japonês médio”, “o somaliano médio”. Os americanos têm fama de não se importarem em entender o resto do mundo (e é capaz de ser verdade), mas quem fala em “o americano médio”, referindo-se a uma quantidade imensa de pessoas, num país com muito mais gente do que o brasileiro médio consegue imaginar, mostra que também não se interessa muito em entender o resto do mundo. Ou ao menos os Estados Unidos. Eu não me interesso pelos Estados Unidos. O que sei sobre eles é porque não há como fugir das notícias sobre eles. Não sei o nome dos estados, nem onde ficam. Não lembro quando foi mesmo a guerra civil, nem como escreve “sessessão” (seceção? çeçeção?). Não entendo de golfe, nem de futebol americano, nem de beisebol. Não sei o que faz um “secretário de estado” americano.

Mas não falo em “americano médio”. Não consigo sequer imaginar como ele seria (assim, fisicamente falando: só consegui pensar em vários rostos de atores americanos. Talvez alguns que eu imaginei nem sejam americanos). Ouvi alguém dizer que “o americano médio” elegeu Obama. Em 2004, li num texto de uma revista dessas grandes aí que “o americano médio” (re)elegeu o Bush. Aqui: tá faltando critério aí pra definir o que é esse “americano médio”. Quem elegeu o Bush, o Obama ou quem quer que seja o presidente da vez foi “a maioria dos americanos”, expressão que inclui ao menos em parte a imensíssima variedade de pessoas que uns chamam por aqui de “americano médio”. (O pior da expressão acho que é o singular. Se fosse “os americanos médios”, vá lá, ainda tinha espaço pra abranger alguma diferenciação; mas “o” americano médio, não dá, imaginei agora um sujeito meio parecido com o Tom Hanks, com um martelo na mão, no alto de uma escadinha, batendo um prego na parede da casa de madeira dele enquanto grita alguma coisa com o cachorro, e que resume tudo o que o americano é.)

Não fale, caro leitor, em “o americano médio”. Ao menos não perto de mim. Mesmo que você acredite na existência dele. E pare de ser antiamericanozinho. Uma coisa é discordar da postura política norte-americana diante do resto do mundo; outra coisa é ser antiamericano. Eu ainda não lembrei se conheço algum americano, provavelmente não, mas gosto da música deles, gosto do modo como os americanos se dedicam profundamente ao estudo de algum assunto que lhes interesse, admiro o fato de serem o único país da história que sempre elegeu democraticamente seus governantes. Um país razoavelmente bem-sucedido, com centenas de milhões de pessoas diferentes umas das outras tentando ser felizes. Torço para que o sejam. Boa sorte ao Obama e aos americanos.