terça-feira, 14 de agosto de 2007

Céu de Brasília

Quem nunca subiu o Eixo Monumental às plenas seis horas duma tarde seca de inverno em Brasília não sabe, definitivamente, o que a cidade tem de melhor. De pior também não. Mas aquele sol quente e desproporcionadamente grande se pondo rodeado pelo céu mais ou menos azul totalmente limpo, por trás do horizonte plano, longo, aberto, espetáculo que vai se renovando à medida que se sobe a avenida e, chegado o alto, apresenta-se todo de novo: é o presente que esta cidade me deu hoje. E a raiva passou, e o cansaço passou, e a desilusão com uma vida que é incompreensivelmente mais difícil do que gostaríamos suavizou-se, e mesmo o engarrafamento perdeu importância, assim como perdeu-a o frio seco cortante desse mês de agosto que inexplicavelmente não tem feriados.

Brasília tem dessas surpresas. A surpresa de conhecer melhor alguém que inicialmente lhe pareceu antipático. A surpresa de sair às ruas a pé num anoitecer e ver que, a despeito dos riscos que o jornal anuncia, há um monte de gente passeando por elas. A surpresa de numa conversa rápida descobrir um amigo em comum (em Brasília bastam duas ou três palavras para que isso aconteça). Brasília é uma cidade monótona mas imprevisível. De um povo honesto que hospeda o centro da corrupção. Faltam-lhe calçadas e ciclovias, mas para-se o carro na faixa de pedestres. Centro do país, mas absurdamente longe de tudo.

Cidade de paradoxos, certamente. Que me guardou numa tarde aborrecida de terça-feira um pôr do sol que levarei na memória enquanto puder, para não me esquecer nunca de que esta é uma cidade bela. Mesmo em agosto.